quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Prisão do Tempo




Os minutos caiam como flores outonais sobre a face dos prédios cinzas. Prédios que aguardavam em silêncio uma primavera não vinda.
Silêncios sem ecos, silêncios sem passado, silêncios entre ausências.
Uma folha em branco perdida no tempo,  pedindo para ser possuída.
Horas mortas em uma praça vazia onde balanços tristes jamais se moviam.
Uma espera sem fim, um suspiro suspenso no ar.
No centro da praça, o relógio.
Senhor do tempo. Senhor dos sonhos.
Trancando entre suas espadas o desejo.
O ciclope de quatro faces vigiava ...vigiava.
Uma vigília muda, em transes
Um templo que fluía em poças estagnadas reflexos do nada.

Vejo o relógio em dias chuvosos.
Ouço o som de suas engrenagens..posso sentir o movimento pesado de seus ponteiros.
Uma sombra no canto de meus olhos
Dos meus olhos mortais.

Na triste cidade onde os homens moram.
De estreitas ruas úmidas e escuras.
De janelas fechadas, persianas fechadas,
Lírios de plásticos contemplam as ruas.
Meninos uníssonos, meninas mudas...
Moças turvas e nervosas.
A praça é cinza, dominada pelo velho relógio de pedra.
Sem passaredo, sem árvores.
Conta as horas longas de um sono profundo, de umas nuvens plúmbeas
Que nunca choram.
A vida parece tocada pelo relógio de pedra
Arrastada por seus ponteiros fatais
O mundo é visto da praça pelo ciclope de pedra
Quatro faces tem o ciclope, todas nuas de belo.
Todas austeras, todas talhadas pelos ventos do tempo.
Assim era o coração dela...encantado.
Uma magia profunda roubou-lhe o sorriso e a  fonte.
Uma forma fantasmagórica se olha no espelho...
Não se reconhece.
Apenas mais um espectro na noite...
Apenas uma casca oca....Uma face surda...Um coração sem luz.

Nenhum comentário: