quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Deserto do Líbano



           

            Fazia cinco dias que viajávamos pelo costado do deserto.
            E meus olhos não cansavam de ver maravilhas.
            Nossa jornada prosseguia entre a estreita faixa montanhosa e as
            cintilantes  areias  vermelhas.
            Cada noite um oásis para descansar.
            Era a hora mágica.
            Os rudes e silenciosos mercadores se transformavam em crianças felizes.
            Todos aconchegados à grande fogueira que inundava de sombra e luz o rosto
            sereno das barracas.
            Era hora de histórias e lendas, heróis e fantasmas.
            Contávamos a volta da fogueira nossas venturas.
            Comíamos, bebíamos e dançávamos.
            As estrelas risonhas brincavam no céu.
            Eram outras fogueiras, outros irmãos que se foram.
            Em meio a todo esse encanto, não longe dali, rugiu terrível um leão.
            E antes que pudéssemos nos recuperar, rugiu mais alto e ameaçador ainda.
            Meu guia, um velho e experiente tuaregue,  olhava-me tranqüilo por entre as
            Labaredas da fogueira.... Devolvi o olhar com inquietação e perguntei se ele
            Também, a despeito de toda experiência que tinha, não sentia medo.
            Ele me olhou fundo na alma, deu uma longa baforada em seu cachimbo. Olhando               
            a fumaça disse:
            - Realmente, não.
            Temo mais os ventos silenciosos.
            Eles lentamente, grão por
            grão movem as areias, movem as dunas movem os desertos....
            Não temo o leão que ruge,
            Temo as obras silenciosas do vento.
            Ele voltou a me encarar por entre as labaredas e sorriu-me tranqüilo.
            Não sem delicadamente repousar a mão sobre o cabo do alfanje em seu cinto.
            E voltou a sorrir-me de novo...
            E o vento soprou manso incendiando a fogueira,  as estrelas. E o meu coração.  

Nenhum comentário: