sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Eu e Ela



Eu e Ela

Na pequena vila onde morávamos todos se conheciam, virtudes e vícios. Os únicos forasteiros eram os ventos que sopravam do leste trazendo os cheiros do mar, da grande floresta negra e do vale que nos cercava. E as vezes para minha sorte, impressão minha ou não,  traziam o cheiro dela.  É que aprendi a adivinhar-lhe a presença pelo perfume, pela eletricidade no ar, pelos silêncios cúmplices. Então me preparava para ser surpreendido por ela, num ato, num gesto, palavra solta no ar que  cravasse em minha memoria, em meu coração. Mas para ela eu, meu nome, minha casta eram tão estranhos como o vento. De mim nada sabia, eu, jardim sem flor.
Já matei dragões por ela, já a salvei de incêndios imensos, domei  as tempestades e cavalguei os raios de Thor.... Mas ela não me vê. Não me percebe... É a sina dos aldeões, triste sina ser invisível, ser o orvalho encantado pela estrela...  Para ela e para muitos sou só um machado, um pastor de ovelhas. Mas um dia eu serei o rei-guerreiro, matador de dragões. Os velhos se contentam com o respeito, quero ser temido e admirado por todos.  Amado por ela. Um dia serei a estrela que brilha do lado dela.

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