quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Cidade Triste ( Prosa - 17)



CIDADE TRISTE


Os minutos caiam como flores outonais sobre a face dos prédios  cinzas. Prédios que guardavam em silêncio uma primavera não vinda. Silêncios sem ecos, silêncios sem passado, silêncios entre ausências.
Uma folha em branco pedindo para ser possuída.
Horas mortas em uma praça vazia onde balanços tristes jamais se moviam.
Uma espera  sem fim, um suspiro suspenso no ar.
No centro  da praça o relógio. Senhor do tempo. Senhor dos sonhos. Trancando  entre suas espadas o desejo.
O ciclope de quatro faces vigiava ...vigiava.
Uma vigília muda, em transes
Um templo que fluía em poças estagnadas reflexos do nada.

Vejo o relógio em dias chuvosos..ouço o som de suas engrenagens..posso sentir o movimento pesado de seus ponteiros...Uma sombra no canto de meus olhos...Dos meus olhos mortais.

Na triste cidade onde os homens moram.
De estreitas ruas úmidas e escuras.
De janelas fechadas, persianas fechadas,
Lírios de plásticos contemplam as ruas.
Meninos uníssonos, meninas mudas...
Moças turvas e nervosas...
A praça é cinza, dominada pelo velho relógio de pedra
Sem passaredo, sem árvores.
Conta as horas longas de um sono profundo, de umas nuvens plúmbeas
Que nunca choram.
A vida parece tocada pelo relógio de pedra
Arrastada por seus ponteiros fatais
O mundo é visto da praça pelo ciclope de pedra
Quatro faces tem o ciclope, todas nuas de beleza
Todas austeras, todas talhadas pelo vento do tempo.
Assim era o coração dela...encantado.
Uma magia profunda roubou-lhe o sorriso e a  fonte.
Uma forma fantasmagórica se olha no espelho...
Não se reconhece..Apenas mais um espectro na noite...
Apenas uma casca oca....Uma face surda...Um coração sem luz.

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