quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Retrato 02 ( Prosa - 20)



RETRATO DOIS



Nunca é tarde, nunca é tarde.
 Parecia que era isso que o céu dizia. Como se a o por do sol tivesse o poder mágico de afastar todos os problemas e todos os fantasmas. Como se sobrenaturalmente a noite pudesse apagar seu rastro, sua identidade e ela nunca mais pudesse ser encontrada.
 Por que os tolos chamam de passado algo que estava ali em seu presente em seu quarto, a morder- lhe os calcanhares, a apertar seu peito com aquela força selvagem e angustiosa que a consumia?!?. “Passado” nada, essa sombra maldita. Afinal que adiantou fugir? O cheiro do medo e da vergonha sempre punha em seu encalço o “passado”, sempre ele a sombra sufocante, a mentira absurda. Como custaram tanto a descobri-la, como foram tão cegos. Agora o ódio monstruoso deles rugia como um leão na escuridão. Por mais quanto tempo poderia fugir? Como conseguiria explicar a ele? E se ele não entendesse? E se ele não a perdoasse? Como conviveria com mais essa perda?  Com mais essa dor?
Para alguns o “passado” é o monstro escondido no armário, a fera debaixo da cama. O gigante a esmurrar lhe a nuca sedento de sangue. Fora capaz de ir tão longe, mas não tinha coragem para acabar com tudo ali mesmo, agora. Filha da puta covarde, sua vaca...mete um tiro no meio da testa e acaba com tudo agora..... Parecia ouvir vindo do canto escuro da mente. Mas era só o inferno a gargalhar de sua falta de coragem de sua falta de fé. Era isso.  Acabaria ali num quarto de hotel barato, perdida e sozinha. Tremendo de medo como a criancinha indefesa e insegura que sempre fora. Mesmo o brutal assassinato e toda aquela mentira para encobrir e se safar só provavam que ela nada mais era do que a caipira, tola, feia e miserável engolida e vomitada  fora por aquela gente horrível. Assassina e covarde, binômio maldito.

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