RETRATO DOIS
Nunca
é tarde, nunca é tarde.
Parecia que era isso que o céu dizia. Como se
a o por do sol tivesse o poder mágico de afastar todos os problemas e todos os
fantasmas. Como se sobrenaturalmente a noite pudesse apagar seu rastro, sua
identidade e ela nunca mais pudesse ser encontrada.
Por que os tolos chamam de passado algo que
estava ali em seu presente em seu quarto, a morder- lhe os calcanhares, a
apertar seu peito com aquela força selvagem e angustiosa que a consumia?!?.
“Passado” nada, essa sombra maldita. Afinal que adiantou fugir? O cheiro do
medo e da vergonha sempre punha em seu encalço o “passado”, sempre ele a sombra
sufocante, a mentira absurda. Como custaram tanto a descobri-la, como foram tão
cegos. Agora o ódio monstruoso deles rugia como um leão na escuridão. Por mais
quanto tempo poderia fugir? Como conseguiria explicar a ele? E se ele não
entendesse? E se ele não a perdoasse? Como conviveria com mais essa perda? Com mais essa dor?
Para alguns o “passado” é o monstro
escondido no armário, a fera debaixo da cama. O gigante a esmurrar lhe a nuca
sedento de sangue. Fora capaz de ir tão longe, mas não tinha coragem para
acabar com tudo ali mesmo, agora. Filha da puta covarde, sua vaca...mete um
tiro no meio da testa e acaba com tudo agora..... Parecia ouvir vindo do canto
escuro da mente. Mas era só o inferno a gargalhar de sua falta de coragem de
sua falta de fé. Era isso. Acabaria ali
num quarto de hotel barato, perdida e sozinha. Tremendo de medo como a
criancinha indefesa e insegura que sempre fora. Mesmo o brutal assassinato e
toda aquela mentira para encobrir e se safar só provavam que ela nada mais era
do que a caipira, tola, feia e miserável engolida e vomitada fora por aquela gente horrível. Assassina e
covarde, binômio maldito.
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