O LEÃO E O VENTO
Fazia cinco dias que viajávamos pelo
costado do deserto.
E
meus olhos não cansavam de ver maravilhas.
Nossa
jornada prosseguia entre a estreita faixa montanhosa e as
cintilantes areias
vermelhas.
Cada
noite um oásis para descansar.
Era a hora mágica.
Os
rudes e silenciosos mercadores se transformavam em crianças felizes.
Todos
aconchegados à grande fogueira que inundava de sombra e luz o rosto
Sereno
e imberbes das barracas.
Era
hora de histórias e lendas, heróis e fantasmas.
Contávamos
a volta da fogueira nossas venturas.
Comíamos,
bebíamos e dançávamos.
As estrelas risonhas brincavam no
céu.
Eram
outras fogueiras, outros irmãos que se foram.
Em
meio a todo esse encanto, não longe dali, rugiu terrível um leão.
E
antes que pudéssemos nos recuperar, rugiu mais alto e ameaçador ainda.
Meu
guia, um velho e experiente tuaregue,
olhava-me tranqüilo por entre as
Labaredas
da fogueira. Devolvi o olhar com inquietação e perguntei se ele
Também,
a despeito de toda experiência, não sentia medo.
Ele
me olhou fundo na alma, deu uma longa baforada em seu cachimbo e
Fitando fumaça espessa, disse:
-
Realmente não.
Temo mais os ventos silenciosos.
Eles lentamente, grão a
grão
movem as areias, movem as dunas movem os desertos....
Não temo o leão que ruge,
Temo
as obras silenciosas do vento.
Ele
voltou a me encarar por entre as labaredas e sorriu-me tranqüilo.
Não
sem delicadamente repousar a mão sobre o cabo do alfanje em seu cinto.
E
voltou a sorrir-me de novo...
E o vento soprou manso incendiando
a fogueira, as estrelas e o meu coração.
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