quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Leão e o Vento ( Conto - 04)



O LEÃO E O VENTO


           Fazia cinco dias que viajávamos pelo costado do deserto.
            E meus olhos não cansavam de ver maravilhas.
            Nossa jornada prosseguia entre a estreita faixa montanhosa e as
            cintilantes  areias  vermelhas.
            Cada noite um oásis para descansar.
            Era a hora mágica.
            Os rudes e silenciosos mercadores se transformavam em crianças felizes.
            Todos aconchegados à grande fogueira que inundava de sombra e luz o rosto
            Sereno e imberbes das barracas.
            Era hora de histórias e lendas, heróis e fantasmas.
            Contávamos a volta da fogueira nossas venturas.
            Comíamos, bebíamos e dançávamos.
            As estrelas risonhas brincavam no céu.
            Eram outras fogueiras, outros irmãos que se foram.
            Em meio a todo esse encanto, não longe dali, rugiu terrível um leão.
            E antes que pudéssemos nos recuperar, rugiu mais alto e ameaçador ainda.
            Meu guia, um velho e experiente tuaregue,  olhava-me tranqüilo por entre as
            Labaredas da fogueira. Devolvi o olhar com inquietação e perguntei se ele
            Também, a despeito de toda experiência, não sentia medo.
            Ele me olhou fundo na alma, deu uma longa baforada em seu cachimbo e
            Fitando fumaça  espessa, disse:
            - Realmente não.
            Temo mais os ventos silenciosos.
            Eles lentamente, grão a
            grão movem as areias, movem as dunas movem os desertos....
            Não temo o leão que ruge,
            Temo as obras silenciosas do vento.
            Ele voltou a me encarar por entre as labaredas e sorriu-me tranqüilo.
            Não sem delicadamente repousar a mão sobre o cabo do alfanje em seu cinto.
            E voltou a sorrir-me de novo...
            E o vento soprou manso incendiando a fogueira, as estrelas e o meu coração. 

 

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