LAVADEIRA
O sol se
punha sobre os morros solitários.
Tingindo
a tarde de tons dourados.
Luz que conspirava
com as escuras marcas que o tempo deixara em seu rosto.
Olhou o
céu procurando sinais misteriosos que só ela entendia.
Talvez
pedindo permissão para começar o longo caminho de volta.
Ia a
passos vagos.
Como se
fosse o caminho que a levasse.
O peso do
corpo mais o da trouxa magicamente não
deixavam rastros na estrada poeirenta e deserta.
Seu corpo de nada, nada pesava, nada dizia,
nada acrescia ao entardecer.
Uma
sombra.
Ninguém
jamais saberia que passou por ali a velha lavandeira.
Ninguém
jamais decifraria as marcas que o tempo deixara em sua face engelhada.
O tempo
lavou o brilho dos olhos, lavou os sonhos, lavou a alma.
O tempo
lavou as doces lembranças, deixando apenas as rugas, os frisos e o cheiro
de potassa.
Olhos
baços gastos pela vida contrastavam a despedida da manha brilhante e violeta.
Difícil
dizer quem mais preguiçosa buscava seu destino.
Já seria
noite quando chegasse à aldeia.
Sempre
tarde, sempre noite, sempre frio.
Sempre o
cheiro de sabão barato, sempre o murmúrio do rio, qual lembranças que não se
calam nunca.
Olhou para trás, mas nada viu.
Ao norte
a prima-estrela veio velar seus passos calados.
Chegaria
tarde.
Tarde pra
quê?
Tarde pra
quem?
Tivera
marido, a guerra levou.
Tivera
filhos.
Tivera-os,
todos juntos.
Filhos da
precisão, filhos da fome, filhos da febre.
Filhos da
solidão.
Que um
dia beberam de seus seios misândrios.
Taboas
velhas a receberam, rangentes.
Já não
assombravam mais. Vazio. Escuro. Só.
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